A simplicidade do romance de Elif Batuman se explica na exposição da aparente banalidade da juventude, mesmo que rodeada de dualidades e desassossego. Durante um diálogo com sua amiga Svetlana, a protagonista encara o caos da mudança: “Na escola, eu era cheia de opiniões, mas a escola foi uma espécie de prisão, com oposição e obstáculos constantes. Quando os obstáculos se foram, foi como se o sentido de tudo tivesse desaparecido também.” A escola acaba, as barreiras caem, os moldes dos nossos dias se despedaçam e, em certo sentido, começamos a viver por nós mesmos. Dessa forma, Selin, a protagonista de A Idiota, vive seu primeiro ano na faculdade enquanto retrata a característica inerente da idade insensata: simplesmente não saber sobre o que quer que seja.
A partir de uma total falta de experiência de vida, Selin narra a entrada na universidade ao mesmo tempo em que descobre a internet, novas amizades (Svetlana querida, te amoS2), matérias complexas e, além disso, sua primeira paixão, que se desenvolve através de e-mails enigmáticos. Ivan, seu destinatário, é um estudante de matemática húngaro e, claramente, muito mais experiente que Selin. Isso gera nela o sentimento de que há muito mais na vida dele do que na dela; ele havia visto e feito muito mais coisas, coisas que ela nunca faria devido à sua obediência cega. O que mais me cativou foi a facilidade de identificação com a narrativa da personagem: o seguido FOMO, os e-mails arriscados, as constantes declarações irrefutáveis (que depois se tornam, não tão definitivas assim), a comunicação misteriosa e impenetrável, que gera cismas e percepções equivocadas. Claramente, o dia mais tranquilo da vida de um jovem.
Uma das minhas partes favoritas é quando Selin vai ao psicólogo da faculdade buscando desabafar. Em uma conversa, digamos, excêntrica, eles discutem a mediação estabelecida pela internet nesta relação platônica dela com Ivan. O psicólogo diagnostica que esse tal de e-mail torna possível relações completamente idealizadas, que não apresentam riscos. Claro que o homem é tão prático quanto qualquer vídeo sobre relacionamento de 30 segundos no TikTok, falando sobre curto e longo prazo e duvidando até do caráter existencial de Ivan. Talvez ele esteja certo em sua pragmaticidade; eu, particularmente, prefiro o ideal de Selin quando diz: “Mas, e se houvesse alguma outra conexão para fazer — e se isso não fosse a única coisa no mundo?”. É interessante a conexão dos dois por meio da linguagem, mas, infelizmente(?), eles não conseguem ultrapassar a barreira das palavras escritas. Esse era um mundo imaculado de qualquer realidade que não fosse a própria.
A Idiota é dividido, essencialmente, em duas partes: a primeira na universidade, a segunda em uma viagem para a Europa, em que Selin passa por Paris, Budapeste e acaba ensinando inglês em um vilarejo húngaro. Nessa última parte, vários personagens novos aparecem e desaparecem em cenas longuíssimas, sem muita importância, tanto que a protagonista compara o momento com um romance russo. Apesar de não ser tão fluída, eu amei a segunda parte do livro. Todo o choque cultural, os cenários exóticos e as surpresas — mesmo que banais — ao longo das páginas me impressionaram.
Não consegui parar de ler, e ao final, sinto que perdi alguma coisa. O livro é simples, por isso não me admira esse sentimento. Ele é como a vida: enquanto as coisas acontecem, não entendemos claramente, já que nem tudo tem uma explicação racional ou uma grande reflexão por trás. Muitas vezes, esperamos coisas que simplesmente não acontecem. Depois, passei dias pensando no que Selin poderia ter feito ou dito, mas por que é tão necessário que exista a consagração de tudo por meio de grandes acontecimentos? Na maioria das vezes, as coisas são o que são, e ainda assim, são especiais.
Enquanto escrevia isso e revisitava minhas marcações, só me vinha a vontade de ler tudo de novo!!!!